A 4 de fevereiro celebra-se anualmente o World Cancer Day, uma iniciativa que pretende consciencializar a população para o domínio da doença oncológica. O tema escolhido para este ano é “We can. I can.” (Nós podemos. Eu posso.), que pretende incentivar a participação de todos nós na redução do impacto que a doença oncológica imprime na nossa sociedade. A organização deixa vários desafios para nos inspirar a fazer parte deste movimento, desde promover a prevenção da doença oncológica, partilhar experiências, apoiar o próximo, ou seja, deixam nas nossas mãos uma grande responsabilidade que todos podemos e devemos abraçar.
Segundo a União Internacional para o Controlo do Cancro (UICC), 8.2 milhões de pessoas morrem anualmente vítimas desta patologia e de acordo com a Direção-Geral de Saúde (DGS) os tumores malignos (principalmente da traqueia, brônquios e pulmão) são a principal causa de morte para a população portuguesa, com idades compreendidas entre os 30 e os 70 anos, ultrapassando as doenças do aparelho circulatório.
Alimentação na prevenção do cancro
Apesar de poder existir alguma predisposição genética para alguns tipos de cancro, a investigação científica aponta para o facto de existirem alguns comportamentos directamente associados à sua prevenção. Uma alimentação saudável e a prática regular de exercício físico são os dois grandes pilares da prevenção da doença oncológica e, vendo bem, são dois comportamentos cuja alteração está ao nosso alcance - quanto à nossa herança genética não há muito que possamos fazer, pelo menos para já. Uma dieta rica em fruta, legumes e cereais integrais é uma excelente forma de nos sentirmos mais saudáveis e simultaneamente diminuir o risco de cancro - e não só.
As fibras (presentes na fruta, legumes e cereais integrais), nutrem as células intestinais e reduzem o tempo de contacto das mesmas com substâncias cancerígenas, contribuindo assim para a prevenção do cancro colorretal.
Os antioxidantes (vitamina C, vitamina E, vitamina A e outros minerais como o selénio, presentes nas fruta e legumes) protegem o organismo contra os danos tecidulares que ocorrem espontaneamente. Caso estes não sejam corrigidos podem resultar no desenvolvimento de um tumor maligno.
É, ainda, importante manter um peso saudável, uma vez que o excesso de peso está ligado a maior risco de cancro da mama, cancro do rim e cancro do cólon. Para além daquilo que devemos fazer para nos protegermos, devemos também estar cientes dos comportamentos que nos colocam em risco. Assim sendo, devemos moderar a ingestão de álcool (não ultrapassar os 2 copos de vinho para o homem e um copo para a mulher), diminuir a ingestão de gordura animal, limitar a ingestão de produtos de charcutaria, salsicharia e fumados, limitar o consumo de carnes vermelhas, limitar os grelhados no carvão e não ingerir as porções carbonizadas.
Doente oncológico e desnutrição
No doente diagnosticado com cancro, tanto a doença oncológica como os tratamentos aos quais o indivíduo é submetido causam profundas alterações no funcionamento do organismo, as quais afetam o seu estado nutricional e comprometem a sua qualidade de vida.
O estado nutricional pode ser caracterizado como um equilíbrio entre aquilo que o indivíduo ingere através da sua alimentação e as reais necessidades nutricionais do organismo. Para avaliar o estado nutricional do indivíduo o profissional de saúde poderá usar a sua história clínica, exame físico, peso, altura, perímetros musculares, pregas cutâneas e exames laboratoriais, dependendo da ferramenta a ser aplicada.
Quando não ingerimos aquilo que o organismo necessita podemos entrar num estado de desnutrição o qual acarreta uma série de complicações graves. Na tentativa de adaptar o organismo à escassez de nutrientes, o corpo reduz as suas funções para o mínimo levando, por exemplo, a maior incidência de infeções, défice de cicatrização dos tecidos e aumento de complicações durante a recuperação. Assim, a nutrição é um fator central no tratamento do indivíduo com doença oncológica, visto que tem uma influência determinante no tempo de recuperação, na qualidade de vida e no prognóstico da doença. Como tal a intervenção precoce de um profissional da área da nutrição é essencial para a recuperação do indivíduo.
Nestes indivíduos verificam-se frequentemente dois fatores que contribuem para a degradação do estado nutricional, são eles o aumento do gasto energético e a redução do consumo alimentar. Se pensarmos no nosso organismo como uma fortaleza e nas células cancerígenas como o inimigo que sobrepôs as nossas defesas e invadiu o nosso território, conseguimos facilmente perceber que terão de ser mobilizados vários recursos para fazer face a esta invasão, e como tal existe um aumento do gasto energético. Quanto à redução do consumo alimentar está ligada a processos bioquímicos que conduzem à redução do apetite mas é também influenciada por alterações do paladar (muitas vezes relacionadas com as terapêuticas e tratamentos), depressão, tipo de tumor, entre outros. Isto explica que a grande prevalência de desnutrição no âmbito da doença oncológica, a qual pode chegar aos 87%.
Estamos perante uma população com necessidades nutricionais aumentadas mas com pouca vontade para ingerir alimentos. Como tal é necessário procurar formas de nutrir estes indivíduos sem lhes causar desconforto. Assim sendo os suplementos hiperproteicos e hipercalóricos com sabores podem ser um excelente aliado. Existem em Portugal várias marcas de confiança a comercializar este tipo de suplementos, os quais podem ser adquiridos em qualquer farmácia. A sua apresentação é geralmente um líquido dentro de uma garrafa (semelhante a um iogurte) mas também existem em forma de pudim para os doentes com dificuldades de deglutição. Existem vários sabores no mercado desde o morango, ao chocolate, descafeinado, alperce e baunilha. No caso dos doentes oncológicos servir o suplemento fresco e em pequenas doses (por exemplo em copos de café) ao longo do dia, pode ser uma estratégia para potenciar a ingestão total da garrafa sem tirar apetite para as refeições do dia. É importante não esquecer que estes devem ser administrados como suplemento à alimentação tradicional e não como substituto da mesma. Em caso de dúvida consulte o seu profissional de nutrição.
Neste World Cancer Day, junte-se a nós e diga “We can. I can.”!
Filipa Santos, licenciada em Dietética e Nutrição
(Saiba mais sobre o World Cancer Day 2016 em http://www.worldcancerday.org/about/2016-2018-world-cancer-day-campaign)