A obesidade é uma doença crónica multifatorial, que pode ser causada por questões genéticas, condições endócrinas ou fatores ambientais (tais como o stress, alimentação e sedentarismo), e está associada a uma redução da esperança de vida. Um elevado índice de massa corporal (relação entre o peso e a altura, que quando superior a 25 Kg/m2 é indicador de pré-obesidade, e se superior a 30 Kg/m2 é indicador de obesidade) representa 13% dos fatores de risco que mais contribuem para o total de anos de vida saudável perdidos pela população portuguesa.
Para além de uma doença crónica, a obesidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a epidemia do século XXI, uma vez que a sua prevalência tem vindo a aumentar gradualmente. Segundo o relatório da Direção-Geral de Saúde “A Saúde dos Portugueses. Perspetiva 2015”, 54% da população portuguesa adulta, entre os 18 e os 64 anos tem excesso de peso, com uma prevalência de obesidade de 14%. Na população entre os 10 e os 18 anos esta prevalência diminui ligeiramente, sendo de 30% para o excesso de peso e 8% para a obesidade. No entanto, na população infantil entre os 6 e os 8 anos, esta prevalência aumenta, sendo de 35% para o excesso de peso e 14% para a obesidade, revelando assim a dimensão da problemática da obesidade infantil.
A obesidade é uma doença de causa multifatorial, no entanto as causas mais frequentes estão associadas ao sedentarismo e ao excesso de ingestão de calorias. Relativamente à alimentação, o consumo excessivo de calorias, principalmente provenientes de gorduras (trans e saturadas) e açúcares, constituem um dos principais problemas, associados à insuficiente ingestão de fruta, de hortícolas e de frutos secos e sementes.
Ao longo dos anos têm sido várias as medidas e intervenções realizadas, tanto mundialmente como nacionalmente, para o combate à obesidade. No entanto, a prevalência desta doença continua a aumentar, o que demonstra a necessidade de repensar estas mesmas intervenções. Nesse sentido, o European Obesity Day definiu como mote para este ano de 2016 “Actions for a Healthier Future”, onde são levantados alguns ideais que devem estar na base das intervenções dos decisores políticos, profissionais de saúde e dos próprios indivíduos com obesidade.
Decisores Políticos – Ideais que devem estar na base das intervenções políticas nacionais e europeias:
- A Europa está a enfrentar uma crise de obesidade com proporções epidémicas, que ameaça colocar um enorme fardo sobre os Sistemas de Saúde – estima-se que os gastos anuais da obesidade na União Europeia são de 70 biliões de euros, associados aos gastos em saúde e diminuição da produtividade. Previsões sugerem que se os países europeus apostassem os seus recursos em intervenções contra a obesidade mais rentáveis, seria possível economizar até 60% dos gastos.
- A resposta dos governos europeus ao acréscimo da prevalência da obesidade, não está a funcionar. Está na altura de apostar numa nova abordagem – Nenhum pais europeu conseguiu reverter a tendência de crescimento da prevalência da obesidade, desde o começo da epidemia.
- A prevenção da obesidade deve ser uma prioridade, embora não possa ser bem sucedida se isolada – É igualmente importante disponibilizar tratamentos efetivos para os milhões de indivíduos obesos.
- É necessário reconhecer a obesidade como uma doença crónica, à semelhança de outras doenças – Algo que já se verifica em Portugal, contrariamente a qualquer outro país europeu.
- A obesidade é uma doença crónica que desencadeia muitas outras doenças, entre as quais doenças não transmissíveis – Onde se inclui a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro.
- A obesidade deve ser reconhecida como uma doença crónica que necessita de tratamento, em vez de um estilo de vida – Uma vez que a obesidade é uma doença multifatorial é importante perceber que em muitos casos vai para além do controlo individual, e que é necessário investir mais recursos em investigação nesta área, e na sua prevenção e tratamento.
- Não reconhecer a obesidade como uma doença contribui para aumentar o estigma, vergonha, stress e decréscimo do estado de saúde dos utentes.
- Para o tratamento da obesidade é necessária uma equipa multidisciplinar – Dietistas/Nutricionistas, Psicólogos, Profissionais do Exercício Físico e Médicos Especialistas nas diferentes áreas associadas às comorbilidades da obesidade são fundamentais para um tratamento adequado.
Profissionais de Saúde – Ideais que devem estar na base das suas intervenções:
- A obesidade é mais complexa do que questões corporais – Apesar dos profissionais de saúde terem os conhecimentos acerca da prevenção e tratamento da doença, o utente é quem tem a experiência de viver com a doença
- A obesidade é uma doença, não um estilo de vida – Tratar a obesidade como sendo uma doença crónica poderá reduzir significativamente os gastos dos sistemas de saúde.
- A obesidade é uma doença crónica que desencadeia muitas outras doenças, entre as quais doenças não transmissíveis, tais como a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro – O excesso de peso e obesidade são responsáveis por 80% dos casos de diabetes tipo 2, 35% dos casos de isquemia e 55% dos casos de hipertensão arterial.
- A formação dos profissionais de saúde é importante para o tratamento da obesidade, no sentido de se trabalhar o preconceito, fornecer estratégias de mudança de comportamentos e capacitar os profissionais para o trabalho em equipas multidisciplinares – Alguns estudos relatam um menor respeito e desejo de ajudar os utentes com obesidade, por parte dos médicos.
- Reduzir o estigma e a discriminação pode aumentar as taxas de sucesso do tratamento – É importante criar um ambiente de suporte aos utentes com obesidade nos serviços de saúde.
- Intervenções políticas e mudanças ambientais não são suficientes para resultar numa perda de peso significativa, em utentes com obesidade de grau elevado – Para além da educação e consciencialização dos utentes, é importante promover cuidados de saúde adequados.
- Há uma necessidade reconhecida de maior especialização médica na obesidade – Equipas multidisciplinares, compostas por Dietistas/Nutricionistas, Psicólogos, Profisionais do Exercício Físico e Médicos Especialistas, permitem a criação de programas de perda de peso mais eficazes.
- Todos os profissionais de saúde devem manter-se atualizados quanto aos métodos mais recentes de prevenção e tratamento da obesidade.
Indivíduos com Excesso de Peso e Obesidade – Ideais que deve reter:
- Existem tratamentos e apoios para indivíduos com excesso de peso e obesidade – Questione o seu médico quanto a tratamentos disponíveis para a gestão do peso, ou informe-se junto de associações ou grupos locais de apoio a indivíduos com excesso de peso e obesidade.
- É importante compreender as questões relacionadas com o excesso de peso e a obesidade – Saiba que um estilo de vida saudável, que inclua uma dieta saudável e atividade física regular podem ajudar a manter um peso normal. No entanto, a obesidade não deixa de ser uma doença crónica, devendo ser tratada como tal, uma vez que está associada ao desenvolvimento de outras doenças, nomeadamente diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro.
- Oferecer apoio e compreender o individuo com obesidade é fundamental – sendo a obesidade uma doença crónica multifatorial, poderá estar associada a diversas causas, tais como questões genéticas, condições endócrinas ou fatores ambientais (tais como o stress, alimentação e sedentarismo). Aceitar e apoiar outros indivíduos com obesidade poderá incentivá-los a procurar a ajuda e tratamento de que necessitam. A partilha de histórias e experiências poderá ser uma boa forma de apoiar outros indivíduos afetados pela doença.
Apenas se todos os indivíduos e classes sociais tiverem estes ideais em mente é possível travar a luta contra a epidemia da obesidade. O Movimento 2020 promove uma alimentação saudável e equilibrada, sendo este um dos princípios importantes para auxiliar nesta luta.