A saúde alimentar das crianças assume uma importância acrescida por se encontrar directamente ligada à saúde das gerações futuras. Segundo o relatório “A saúde dos portugueses. Perspectiva 2015”, da Direção Geral de Saúde, 35% das crianças portuguesas entre os 6 e os 8 anos apresenta excesso de peso, das quais 14% tem obesidade.
Sendo o excesso de peso e a obesidade um dos maiores problemas de saúde do século XXI, por aumentar o risco de desenvolvimento de um leque alargado de doenças crónicas, reduzir esta prevalência torna-se imperativo, de forma a melhorar, não só, a saúde das crianças de hoje, bem como a saúde dos adultos de amanhã.
No que diz respeito à saúde alimentar das crianças, o papel dos adultos é preponderante. O adulto representa um modelo para a criança, pelo que todos os intervenientes na vida da criança – pais, educadores, familiares, amigos, etc. - têm influência no estilo de vida adoptado pelos mais pequenos.
Primeiro, há que ter em conta que as crianças imitam os comportamentos dos adultos. Nesse sentido, a melhor abordagem num contexto de educação alimentar será dar o exemplo: de forma a motivar para a adoção de um estilo de vida saudável, que contemple a prática de uma alimentação saudável e de actividade física, melhor do que dar essa informação aos mais pequenos será demonstrá-lo, colocando todos os princípios que pretende incutir nos mais novos em prática no seu dia-a-dia.
Para além do papel de modelo, os pais, educadores e outros adultos que se relacionem frequentemente com as crianças assumem outros papéis importantes no bem-estar e saúde – alimentar, mas não só – da criança, e que é importante ter em conta. São eles:
- Abastecedor: há que ter em conta que são os adultos que devem garantir a disponibilidade de alimentos saudáveis em casa ou noutros ambientes frequentados pela criança, de forma a permitir a prática de uma alimentação saudável;
- Orientador: embora não deva ser demasiado rígido com as crianças no que toca à alimentação, dando-lhes espaço para compreenderem a importância de realizarem determinadas escolhas e para desenvolverem a capacidade de auto-controlo, é importante que o adulto oriente as escolhas das crianças, explicando o porquê de dever privilegiar determinadas escolhas em detrimento de outras, dando a conhecer novos alimentos e sabores, etc;
- Protetor: relacionado com o papel acima, é importante para que a criança se sinta protegida, mas não deve ser levado ao extremo no que diz respeito às escolhas alimentares. É importante dar o exemplo perante as crianças e transmitir-lhes a importância da prática de uma alimentação saudável, deixando, no entanto, algum espaço para que as crianças possam desenvolver competências no que diz respeito às escolhas alimentares, importantes no desenvolvimento das suas foodskills.
Por último, e de forma a conseguir influenciar a saúde alimentar de forma positiva, ficam algumas recomendações que deve seguir no que diz respeito ao relacionamento com as crianças:
- Não use a comida como prémio;
- Garanta que, pelo menos, uma refeição por dia é feita em família;
- Faça das horas de refeição momentos de partilha e de convívio à mesa;
- Estabeleça horários para as várias refeições, criando nas crianças o hábito de o fazer;
- Dê o exemplo e coma sopa, legumes e fruta;
- Não prolongue a refeição por tempo indeterminado;
- Dê várias oportunidades às crianças de provar novos alimentos: não desista após algumas tentativas falhadas. Saiba que é natural haver rejeição de um mesmo alimento até 14 vezes até o mesmo ser aceite pelos mais pequenos;
- Promova a prática de um estilo de vida ativo, partilhando momentos de actividade ao ar livre com os mais pequenos;
- Incentive para a prática de uma actividade física que seja do agrado da criança.